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Imagem de Pexels por Pixabay

Como o uso irracional de medicamentos afeta a água?

Os medicamentos vieram para ajudar no tratamento de inúmeras doenças, doenças que antes eram mortais e hoje já são consideradas controladas devido a ciência, educação e tecnologia que criam e produzem medicamentos. Mas será que estamos fazendo um uso racional?

A Organização Mundial da Saúde diz que “o uso racional de medicamentos ocorre quando o paciente recebe o medicamento apropriado à sua necessidade clínica, na dose e posologias corretas, por um período de tempo adequado e ao menor custo para si e para a comunidade” (INSTITUTO CIÊNCIA, TECNOLOGIA E QUALIDADE - ICTQ, 2015). 

Porém, um estudo realizado pelo ICTQ em 2014 evidenciou que 76,4% da população brasileira faz uso de medicamentos a partir da indicação de familiares, amigos, colegas e/ou vizinhos. Em algumas capitais estes índices são mais elevados, colocando-se acima da média nacional, estão Salvador e Recife (96%), Manaus (92%), Rio de Janeiro (91%), Brasília e São Paulo (83%), e Belém (78%). Ainda de acordo com o Instituto “32% da população consomem medicamentos isentos de prescrição médica (MIPs) de forma autônoma e 33% adquirem estes produtos com o auxílio de balconistas, ou seja, 65% dos MIPs utilizados no Brasil não passam pelo crivo de profissionais farmacêuticos. Esses resultados ajudam a entender as razões que levaram ao registro, pelo Sistema Único de Saúde (SUS - DataSus), de 60 mil casos de intoxicações medicamentosas no Brasil entre os anos de 2009 e 2013”. Alarmante!

Assim, esta data foi criada para alertar a população sobre os riscos à saúde causados pelo uso indiscriminado de medicamentos e pela automedicação. 

Mas você sabia que nem todo remédio é medicamento? 

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA (2020) todos os medicamentos são remédios, mas isso não vale para o contrário, e existem diversos tratamentos, produtos e cuidados que auxiliam no combate de doenças e amenizar dores, mas que não são medicamentos, tais como fisioterapia, caminhadas e acupuntura. Cápsulas e complementos que são alimentos comercializados de forma farmacêutica também não são medicamentos. 

Medicamentos são bens de saúde, a propaganda deles segue regras e tem que disponibilizar certas informações obrigatórias, isso vale para qualquer medicamento, mesmo os que não possuem tarja, e para ser considerado medicamento no Brasil o respectivo produto precisa, necessariamente, ter registro na Anvisa. 

Qual o impacto do uso irracional de medicamentos para a água?

O consumo cada vez maior de hormônios, pesticidas, fármacos (incluindo medicamentos) tem contribuído, e muito, para o aumento da poluição em rios, lagos e águas subterrâneas, além disso, causa danos a flora e fauna aquática e aos seres humanos, uma vez que quando faz-se a ingestão dessa água ou alimento contaminado pode-se contaminar. Esses poluentes são chamados de Contaminantes Emergentes (CE) mesmo não sendo novos, pois são usados há muito tempo e com frequência. 

O que acontece é que esses medicamentos (comprimidos, cápsulas, drágeas, xaropes) que deveriam ir para farmácias ou pontos de coleta específicos, são descartados de forma incorreta e acabam poluindo os recursos hídricos. Uma matéria no Blog Farmacológica da UFRGS (2018) menciona que: “quando ingerimos algum medicamento, o princípio ativo não é totalmente degradado no nosso corpo. Em geral uma parte do medicamento de fato é metabolizada, contudo, uma porcentagem acaba sendo eliminada pelas fezes ou pela urina e direcionada à rede de esgoto. Uma vez que chega na rede de esgoto, a água contendo resíduos do fármaco é submetida às estações de tratamento de esgoto — onde não recebe nenhum tipo de tratamento especial para a neutralização desses compostos químicos — e por fim acaba sendo despejada em um manancial, sendo considerada como água de esgoto já tratada.

Em seguida essa mesma água contendo fármacos, pesticidas e hormônios é captada pelas estações de tratamento para se tornar água potável, onde também não recebe nenhuma espécie de tratamento específico para a remoção dos compostos químicos presentes nela. Por fim, essa água é considerada potável e é distribuída para a população, ainda que contenha traços desses compostos que não foram totalmente removidos”.

O Professor Eduardo Bessa Azevedo, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, enfatiza que são substâncias encontradas em pequenas concentrações, mas que, se consumidas por anos, podem trazer algum risco (Jornal da USP, 2019).

Segundo o Professor Fábio Kummrow (Programa POMPA do Instituto Água Sustentável) não existe o jogar fora, pois, na verdade, tudo o que descartamos sempre irá para algum lugar e esse lugar geralmente é a água, gerando graves consequências. Assista a entrevista completa AQUI e veja mais sobre os CE AQUI!

Lembre sempre: o mundo precisa de água, água de qualidade!

Fontes:

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA, 2020: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/uso-racional-de-medicamentos-um-alerta-a-populacao

BLOG FARMACOLÓGICA, 2018: 

https://www.ufrgs.br/farmacologica/2018/11/29/farmacos-na-agua/

INSTITUTO ÁGUA SUSTENTÁVEL, 2020: 

https://aguasustentavel.org.br/conteudo/blog/77-o-que-sao-os-contaminantes-emergentes-ce

INSTITUTO CIÊNCIA, TECNOLOGIA E QUALIDADE - ICTQ, 2015: https://www.ictq.com.br/opiniao/460-uso-irracional-de-medicamentos

JORNAL DA USP, 2019: 

https://www.ecodebate.com.br/2019/07/25/contaminantes-emergentes-dificeis-de-remover-nas-estacoes-de-tratamento-de-agua-farmacos-cosmeticos-e-outros-compostos-contaminam-recursos-hidricos/

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