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Zonas úmidas e biodiversidade: por que proteger?

As zonas úmidas são ecossistemas fundamentais para a vida no planeta. São áreas onde a água está presente de forma permanente ou temporária, cobrindo o solo ou se mantendo próxima à superfície. Esses ambientes incluem pântanos, brejos, banhados, várzeas, manguezais, lagos rasos, áreas alagadas, além de zonas costeiras com profundidade inferior a seis metros. Apesar de sua importância ecológica e socioeconômica, as zonas úmidas estão entre os ecossistemas mais degradados e ameaçados do mundo.

De acordo com a Convenção de Ramsar — tratado internacional firmado em 1971 para a conservação e uso racional das zonas úmidas — esses ambientes abrangem tanto áreas naturais quanto artificiais, de água doce, salobra ou salgada. Estima-se que as zonas úmidas cubram cerca de 6% da superfície terrestre global, mas concentrem aproximadamente 40% das espécies animais e vegetais conhecidas, o que demonstra seu papel essencial na manutenção da biodiversidade (ONU, a). Esses ecossistemas oferecem alimento, abrigo e locais de reprodução para uma imensa variedade de espécies, muitas delas endêmicas ou ameaçadas de extinção. Por isso, são considerados verdadeiros berçários da vida.

No Brasil, ecossistemas como os manguezais, as várzeas amazônicas, os banhados do Sul e as veredas do Cerrado representam zonas úmidas com altíssima diversidade biológica. Os manguezais, por exemplo, são locais de reprodução e alimentação de moluscos, peixes, crustáceos e aves aquáticas, sustentando populações pesqueiras e garantindo segurança alimentar a comunidades costeiras. Já as várzeas amazônicas exercem papel central no ciclo de vida de diversas espécies de peixes, enquanto os banhados do Sul, como o Taim (RS), são áreas críticas para a conservação de aves migratórias e ameaçadas, como a maria-faceira. 

Além de sua importância para a biodiversidade, as zonas úmidas prestam serviços ecossistêmicos indispensáveis à vida humana. Elas funcionam como filtros naturais, retendo sedimentos, nutrientes e poluentes, purificando a água de forma eficaz. Também regulam o clima por meio da absorção e estocagem de carbono, especialmente em ambientes com solos orgânicos alagados. Durante os períodos de cheia, as zonas úmidas absorvem grandes volumes de água, reduzindo riscos de enchentes e alagamentos. Além disso, contribuem para a recarga de aquíferos e o abastecimento de rios e nascentes, desempenhando papel crucial na segurança hídrica de inúmeras regiões.

Do ponto de vista econômico, as zonas úmidas sustentam atividades como pesca artesanal, turismo ecológico, agricultura adaptada à sazonalidade da água e a coleta de produtos florestais não madeireiros. Quando bem manejadas, essas atividades podem ser sustentáveis e garantir renda às populações locais, reforçando a relação entre conservação ambiental e desenvolvimento social. 

Apesar de todos esses benefícios, as zonas úmidas vêm sendo destruídas a um ritmo alarmante. A ONU (b) estima que mais de 35% das zonas úmidas do planeta tenham sido perdidas desde 1970, em um ritmo três vezes maior do que o das florestas. As principais ameaças são a drenagem para agricultura, a expansão urbana, a construção de barragens, a poluição por esgotos e agrotóxicos, a introdução de espécies exóticas invasoras e os impactos das mudanças climáticas. No Brasil, manguezais e brejos têm sido sistematicamente substituídos por áreas urbanizadas, pastagens e monoculturas agrícolas. A perda desses ambientes compromete não só a biodiversidade, mas também a qualidade da água, a segurança alimentar e a resiliência das populações humanas frente às mudanças ambientais.

A degradação das zonas úmidas contribui para a emissão de gases de efeito estufa, diminui a capacidade de retenção de água, acelera processos erosivos e reduz a oferta de serviços ecossistêmicos essenciais. Por isso, sua proteção é uma estratégia eficaz para combater as crises ambientais interligadas que vivemos atualmente: a crise da água, da biodiversidade e do clima. Proteger zonas úmidas é preservar o equilíbrio dos sistemas naturais que sustentam a vida no planeta. 

A conservação desses ambientes pode ocorrer por meio da criação de áreas protegidas, implementação de políticas públicas voltadas ao uso sustentável do solo, fortalecimento da governança ambiental e valorização do conhecimento tradicional de comunidades locais. A restauração ecológica também tem se mostrado uma ferramenta poderosa. A reativação do regime hidrológico original, o plantio de vegetação nativa e a remoção de estruturas que alteram o fluxo da água podem recuperar a funcionalidade ecológica de zonas úmidas degradadas e restaurar serviços essenciais.

O Brasil é signatário da Convenção de Ramsar e possui vinte e sete (27) Sítios na Lista de Ramsar, sendo vinte e quatro correspondentes a Unidades de Conservação, ou parte delas, e três Sítios Ramsar Regionais formados por Unidades de Conservação, Terras Indígenas e áreas de preservação permanente (APP) (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA, 2021). Entre elas, destacam-se o Pantanal, considerado a maior planície alagável do mundo, os manguezais da Bahia e o Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas. A presença desses sítios demonstra o potencial do país para liderar ações de conservação e uso sustentável das zonas úmidas no cenário global.

A proteção das zonas úmidas, portanto, deve ser vista como uma prioridade estratégica. Investir em sua conservação é garantir água limpa, alimentos, segurança climática e biodiversidade para as futuras gerações. Em um momento crítico para o planeta, olhar com responsabilidade e urgência para esses ecossistemas é mais do que uma escolha consciente — é uma necessidade vital.

Referências:

Convenção de Ramsar: https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade-e-biomas/biomas-e-ecossistemas/areas-umidas/a-convencao-de-ramsar-1

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA, 2021: https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade-e-biomas/biomas-e-ecossistemas/areas-umidas/sitios-ramsar-brasileiros

ONU, a: https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/zonas-umidas-e-biodiversidade-e-o-tema-do-dia-mundial-de-zonas

ONU, b: https://www-un-org.translate.goog/en/observances/world-wetlands-day?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc